Wednesday, November 01, 2006

corante de maçã

e frescura matinal sempre ajudaram a começar o dia, por mais chuvoso que fosse. no entanto, naquela nuvem daquela manhã o dia não se mostrava nada matinal na sua escuridão, embora a frescura lá estivesse. de soslaio, olhando. demasiado presente.
Tentei segurar-me às forças que todas as manhãs galãmente conferem, num eloquente toque de malícia, a quem se propõe massacrá-las com demasiado frenesim de chávenas irrequietas e torradas de pão esmifrado entre dedos engordurados. Geleia na mesa.
Migalhas no chão. sorrisos falsos entre quem não se quer ver e não quer ser isto. esta coisa pegajosa que nem sabe falar. palavras não brotam detrás de grades de sono epiléptico. e o desmaio não é salvação para ninguém, muito menos o suspiro. percorrem-se ruas desnudas. discursam-se caminhos perdidos. o nevoeiro nunca é denso o suficiente para esconder os arranhões da noite. nem as feridas do dia. marcados no chão ainda estão frescos os passos das putas, os assobios dos cães ainda se colam às paredes.
Não escorrem porque têm horror às sarjetas que escoam águas alheias, babas e olheiras das noites que outros não deixaram dormir. já niguém se lembra da última vez que dormiu. uma noite seguida de sussurros em vielas, de aconchegos brutos, de mordidelas ao ouvido, de trapos presos em pregos, rasgados no meio do suor.
Roçam as carroçarias dos taxis madrugadores com os chassis dos que acabam a carreira. os bigodes trocam saudações, tropeções no escuro de uma luz que teima em perguiçar. esse candeeiro nunca acendeu.